
Dedicar-se à criação de um monograma ou brasão é mergulhar na arte da simbologia. Não se trata apenas de entrelaçar iniciais; trata-se de fundir duas histórias, duas identidades, em um único símbolo que perdurará muito além do dia do casamento. Meu trabalho é ser o heraldista moderno de casais em Belo Horizonte, traduzindo seu amor e suas personalidades em um marco visual único.
A complexidade deste serviço reside no equilíbrio. Como combinar um “S” sinuoso e romântico com um “R” reto e moderno? Este foi o desafio que um casal, ela arquiteta e ele poeta, me apresentou. Minhas primeiras tentativas foram desastrosas. Ou o design pendia para o lado pragmático dele, parecendo um logo de empresa, ou para o lado sonhador dela, tornando-se excessivamente ornamentado. A frustração era palpável. Eu sentia que estava falhando em representar a união deles. A solução surgiu não no desenho, mas na conversa. Pedi que me contassem sobre os pontos que os conectavam. Um deles era a paixão pela astronomia. A partir daí, a ideia floresceu: criei um design onde as iniciais não apenas se entrelaçavam, mas formavam a silhueta de uma constelação que só eles conheciam. O brasão final continha as linhas retas que ele amava e as curvas fluidas que ela desejava, unidas por um conceito maior. Aprendi que o serviço de criação de monogramas bem-sucedido é 20% design e 80% escuta.
Outra lição valiosa veio da reverência ao passado. Uma família de origem italiana me procurou para criar um brasão para o casamento do filho. Eles tinham um brasão familiar antigo, mas queriam incorporar um elemento que representasse a noiva, uma mineira de Ouro Preto. Minha “confissão” é que senti um peso enorme de responsabilidade. Modificar um símbolo com séculos de história é um ato de ousadia. O desafio era integrar sem descaracterizar. A solução foi sutil: redesenhei o brasão original com mais nitidez e, em um dos cantos, onde havia um campo vazio, incorporei uma pequena e delicada flor de quartzo, símbolo das terras mineiras. Foi um ato de diplomacia visual, unindo a herança italiana à riqueza de Minas.
O processo de criação de um brasão é um ritual. Começa com esboços a lápis em papel vegetal, uma dança de linhas e letras. O som é o do grafite arranhando o papel. O cheiro é o da borracha e da madeira do lápis. Depois, no computador, o trabalho é de refinamento, de ajuste de curvas e espessuras. A sensação de um trabalho bem-feito é quando apresento o design final e o casal se reconhece nele instantaneamente. É o momento em que eles olham para aquele símbolo e dizem: “Somos nós”. A aplicação final, seja em relevo seco ou hot stamping, é a materialização dessa identidade. Passar o dedo sobre as iniciais em alto relevo em um papel de algodão é sentir, literalmente, o peso daquela nova união.
O futuro desta arte, creio eu, está em sua aplicação expandida. Um monograma ou brasão forte pode viver além do convite: na pista de dança, nos guardanapos, nos presentes dos padrinhos, tornando-se o fio condutor de toda a identidade visual do evento. Meu objetivo é continuar a criar símbolos que não sejam apenas bonitos, mas que sejam carregados de significado, emblemas pessoais que os casais levarão consigo por toda a vida. Se vocês buscam mais do que uma decoração, mas um selo para a vossa história,