
Etiqueta de Convite de Casamento
O local da cerimônia não é um mero endereço; é o palco onde a promessa mais importante será feita. É um espaço carregado de significado, seja pela sua beleza arquitetónica, pela sua história familiar ou pela sua ligação com a natureza. O meu papel, como criador de convites, é tratar este local com o respeito de um cenógrafo, introduzindo-o aos convidados não como uma linha de texto, mas como uma personagem essencial na história do casamento.
A abordagem para representar o local da cerimônia deve ser evocativa, não literal. Um dos meus maiores aprendizados veio de um casamento na Capela de São Francisco de Assis, a “Igrejinha da Pampulha”. A minha primeira inclinação, como jovem designer, seria usar uma ilustração da icónica fachada. Contudo, o casal, ambos arquitetos, detestou a ideia, achando-a turística e impessoal. Eles desafiaram-me a capturar o “espírito” do lugar. Após visitar novamente a capela, foquei-me não no edifício, mas nos detalhes: as curvas sinuosas dos painéis de Portinari, a forma como a luz entrava pelos vitrais. O design final foi um convite minimalista com uma única linha curva em relevo seco que atravessava a página, uma abstração que apenas quem conhecia a obra de Niemeyer entenderia plenamente. Foi um convite que dialogava com a inteligência do convidado, em vez de lhe entregar tudo de forma óbvia.
Outra experiência marcante foi com um casamento num jardim botânico. A noiva queria que o convite “cheirasse a verde”. Em vez de uma ilustração floral genérica, passámos uma tarde no local da cerimônia a identificar as espécies de plantas que estariam em flor na data do casamento. Escolhemos três folhagens distintas e criámos um padrão delicado para o forro do envelope e para a borda do convite principal. A “confissão” é que me tornei um botânico amador por uma semana. Mas o resultado foi um convite que era uma extensão autêntica do próprio jardim, uma promessa da beleza natural que os convidados iriam encontrar.
No meu processo de trabalho, a pesquisa sobre o local da cerimônia é um passo fundamental. Peço fotos, visito o espaço sempre que possível. Tento captar a sua textura, a sua paleta de cores, a sua luz. No ateliê, o som que imagino é o do próprio local: o eco de uma igreja antiga, o sussurro do vento num campo, o murmúrio de um museu. A sensação de um trabalho bem-feito é quando um cliente diz: “Você capturou o sentimento exato do lugar”. É a certeza de que o convite funciona como um verdadeiro prólogo para a experiência que está por vir.
O futuro da representação do local da cerimônia reside na personalização e na experiência sensorial. Penso em papéis que imitem a textura de uma parede de pedra ou em ilustrações de mapas que sejam, em si, obras de arte. O meu objetivo é garantir que o nome e o endereço do local não sejam apenas dados logísticos, mas sim o primeiro passo na jornada emocional do convidado. Se o lugar onde dirão “sim” é especial para vocês, ele merece ser apresentado como tal, com a arte e a consideração que um palco tão importante exige.