
Quando um casal tem uma ligação profunda com a literatura, uma simples frase pode não ser suficiente. É aqui que entra a possibilidade de usar uma citação ou poema mais extenso, um trecho que captura com mais profundidade a complexidade do seu sentimento. Este é um desafio de design fascinante: como incorporar um bloco de texto literário num convite sem comprometer a sua clareza e elegância? A resposta está em tratar o poema não como um adereço, mas como um elemento central da experiência do convidado.
A solução mais eficaz é dar ao texto o seu próprio palco. Lembro-me com especial carinho de um projeto para um casal de professores de literatura. Eles escolheram uma estrofe de um poema de Carlos Drummond de Andrade que era fundamental para a sua história. Seria um crime tentar espremê-la no rodapé do convite. A solução foi criar uma sobreposição em papel vegetal translúcido. Ao abrir o envelope, o convidado encontrava primeiro esta folha delicada, onde apenas o poema estava impresso. A sua translucidez permitia vislumbrar as informações do convite por baixo, criando um véu de poesia. Só ao levantar a folha é que os detalhes práticos eram revelados. Transformámos o ato de ler o convite numa pequena cerimónia, numa revelação em camadas.
O erro a ser evitado é a falta de espaço. Tentar encaixar quatro ou cinco linhas de um poema no fundo de um convite já preenchido é a receita para o desastre. O texto torna-se ilegível, visualmente apertado, e a beleza e o ritmo dos versos perdem-se completamente. A minha “confissão” é que, no passado, já tentei fazê-lo para agradar a um cliente, e o resultado foi medíocre. Aprendi que é meu dever, como designer, proteger a integridade tanto do design quanto do texto. Se uma citação ou poema é importante, ele merece o seu próprio espaço, seja numa sobreposição, no verso do convite ou num cartão dedicado dentro do envelope.
O processo de trabalhar com um poema é sensorial. É o som do papel vegetal a ser manuseado, a sua textura suave e leitosa. É o desafio de escolher uma fonte que honre o tom do poeta. É a sensação visual de ver as palavras a flutuar sobre as informações principais. Exige um design que respire, que entenda o valor do silêncio e do espaço em branco em torno das palavras.
O futuro desta prática está em explorar ainda mais esta interatividade. Penso em dobras de papel que revelem o poema de forma inesperada ou em combinações de texturas que dialoguem com o conteúdo do texto. O meu compromisso é tratar a literatura com a reverência que ela merece. Se uma citação ou poema é o verdadeiro porta-voz do vosso amor, não o trataremos como uma nota de rodapé. Iremos construir um design que o celebre, criando uma experiência memorável e significativa para quem o recebe.