
Ateliê da Lola
Num mundo que valoriza o individual, a inclusão dos nomes dos pais no convite de casamento é uma poderosa declaração de respeito pela tradição, pela família e pelas origens. É um gesto que reconhece que um casamento não é apenas a união de duas pessoas, mas o entrelaçamento de duas famílias. O meu ofício, ao lidar com este elemento tão carregado de significado, é o de um diplomata do design, garantindo que esta homenagem seja prestada com a solenidade, o afeto e a correção que a etiqueta exige.
A forma mais tradicional e, para muitas famílias, mais emocionante, é seguir a fórmula clássica em que os pais “convidam” para o casamento dos seus filhos. Tive a honra de criar um convite para um casal que fazia questão de prestar esta homenagem. Desenhámos uma peça sóbria, em papel de algodão, onde os nomes dos pais foram compostos numa bela fonte caligráfica, ocupando o topo do convite. Durante a reunião de aprovação da prova, a mãe da noiva, ao ler o seu nome e o do seu marido formalmente a convidar para a celebração, emocionou-se profundamente. Naquele momento, compreendi que o meu trabalho não era apenas sobre design, mas sobre validar e honrar os papéis mais importantes na vida de um casal.
Contudo, este é, sem dúvida, o campo mais sensível e politicamente complexo de um convite. A realidade das famílias modernas é diversa: pais divorciados, novos casamentos, pais já falecidos. A minha “confissão” mais marcante foi o erro que cometi ao lidar com uma situação de pais divorciados que não tinham uma relação amigável. Na minha primeira proposta de layout, segui uma regra de etiqueta padrão sem antes compreender a fundo a dinâmica familiar. A disposição dos nomes causou um profundo mal-estar e um conflito desnecessário. Foi uma lição de humildade. Aprendi que, nesta área, o designer deve ser primeiro um ouvinte atento e depois um conselheiro informado. Hoje, dedico uma parte considerável da reunião de briefing a compreender a árvore genealógica e as sensibilidades envolvidas, apresentando as diversas fórmulas de etiqueta que existem para cada cenário possível, permitindo que o casal tome a decisão mais confortável e respeitosa para todos.
No ateliê, o trabalho com os nomes dos pais é um exercício de hierarquia visual e de respeito. A tipografia escolhida, o seu tamanho e a sua posição em relação aos nomes dos noivos comunicam volumes. A sensação de um trabalho bem-sucedido é criar uma composição que seja visualmente harmoniosa e, acima de tudo, emocionalmente pacífica para a família. É saber que aquele pedaço de papel será um motivo de orgulho, e não de contenda.
O futuro desta tradição manter-se-á, pois o desejo de honrar os pais é atemporal. O meu compromisso é continuar a abordar este elemento com a máxima sensibilidade. Se para vocês é importante que os nomes dos pais figurem no vosso convite, o nosso trabalho será encontrar a forma mais bela e respeitosa de o fazer, garantindo que as vossas raízes sejam celebradas com a dignidade que merecem.